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10 revelações da cena musical brasileira que você precisa conhecer em 2016

Nossos radares estão atentos a tudo de novo que surge na música eletrônica e alternativa do mundo – e principalmente do Brasil. Noticiar lançamentos é um padrão do jornalismo musical, mas num tempo em que listas condensam o pensamento da hiperinformação da Internet, sempre vale a pena consolidar destaques e, assim, mostrar como o agrupamento de talentos reflete o todo do que vem sendo produzido.

Os dez destaques abaixo passam por DJs, músicos, instrumentistas, performers, cantores e cantoras, jovens e gente já veterana também, talentosos, que não se dobram às dificuldades de fazer música underground, e que também já estão encontrando acolhida na indústria cultural e no mainstream

LEDAH BRIACHO

Gata, sempre concentrada nas boas mixagens, militante afiada e DJéia de agenda cheia, Ledah Briacho é a sensação do circuito gay-pop paulistano lotado de clubes, noites e pistas cheias, sempre sedentas por divas cantantes. Transsexual, ela começou na noite há 10 anos como door e promoter em clubes como a SoGo, Nostro Mondo e Hot Hot, e hoje é figura certa em line-ups de Popporn, Tunnel, Bofetada e Blue Sapce, entre outros agitos. “Comecei na cena eletrônica, mas me identifiquei e me encontrei com as marginalizadas: as montadas, as afeminadas, as esquisitas, as tatuadas, as ursas e etc. E é no meio dessa gente multifacetada que eu venho construindo minha história na cena”, explica Ledah.

Em 2012 ela fez um curso de DJ no Centro de Música e Inclusão de Jovens (CMIJ) e passou a comandar as picapes. Ledah acredita que há um boom de interesse em drags e trans nos últimos anos, mas que ainda assim é difícil estabelecer-se como trans, mesmo entre os LGBTS: “O machismo também impera aí. Quantas DJs mulheres você conhece? Vamos afunilar mais? Quantas DJ trans você conhece? Não pense que foi fácil ter a agenda que tenho hoje, precisei provar dobrado que eu sei o que estou fazendo e que seguro muito bem uma pista cheia”, completa.

 

JOVEM PALEROSI

O paulista Jovem Palerosi é multi-talentos: toca guitarra e eletrônicos na banda instrumental Meneio, arranja synths e samples ao lado do DJ Craca, discoteca, faz trilhas sonoras diversas e para projetos multidisciplinares, e também é produtor de uma música eletrônica delicada, bonita e contemplativa, nome que pouco a pouco vem se inserindo nos line-ups de festas undergrounds, como a Blum e rolês em Heliodora – ouça aqui seu live lá na cachoeira mineira.

Seu trabalho autoral pode ser bem apreciado no orgânico álbum Mouseen, disponível para download gratuito. “A base do disco são de samples de artistas que eu já tinha alguma afinidade. Tenho explorado formas de utilizar vários instrumentos de diferentes fontes para criar novas faixas, muitas vezes são várias músicas de um artista só ou então diferentes artistas misturados. Não tento enquadras as músicas em nenhum gênero específico, é um processo mais empírico”, explica.

 

FRACTAL MOOD

A dupla de techno, house e eletrônica viajante formada por Guilherme Picorelli e Henrique D’Marte não é novidade na cena paulistana, mas seus sets têm se destacado e fortalecido recentemente nos line-ups de festas como Carlos Capslock e Soul Set. Seus remixes e produções surgem cada vez com melhor acabamento em bonitos lançamentos, como a soturna faixa “João da Prates”, que está na compilação Brazilian Gets Physical, que a Get Physical lançou há pouco tempo.

Ratos de estúdio, de clubes (Henrique já trabalhou no D-Edge) e de pistas cheias, é natural que o Fractal Mood absorva todas as nuances necessárias para alcançarem êxito no metiê techno-minimal-house, e suas produções e sets a partir desse bom momentum devem confirmar a nossa aposta.

 

SISO

O mineiro radicado em São Paulo David Dines, o Siso, faz música, teatro e performance. Dançou com Lineker, toca com o Cabezas Flutuantes e agira em seu EP “Terceiro Molar”, escala Paulo Beto (Anvil FX) para musicar os sintetizadores analógicos de seu electro-pop cheio de personalidade.

O clipe de “Eclipse” é cheio de personagens misteriosos em recorte com os synths hipnóticos do single, a maior iniciativa pop desse mineiro que já tocou punk rock, folk e MPB. O sabor pop brasil retrô, mas com referências bem modernas também, lembra o som e a ascensão da carioca Mahmundi, que temos perfilado por aqui.

 

CIGARRA

Ágatha Barbosa passou pelos nossos radares por manter seus lives de música psicodélica do Jardim Eléctrico em conjunto com a maternidade. Como Cigarra, ela lançou há pouco o EP Límbica, “todo feito com base em samples recortados de outras diversas tracks, seguindo um caminho de apropriação, remix, re-edit e sampling e tal q desenvolvo há uns tantos anos”, ela conta. Alguma semanas depois do lançamento, ela disponibilizou o pack de camadas da música para que outros músicos e produtores a sampleassem, e agora ela diz estar feliz com o tanto de retorno que tem recebi de refeituras de sua música.

“Cigarra” resume 3 anos de confecções de música eletrônica psicodélica, brisada e orgânica, toda baseada em samples e numa narrativa de sua vida até a gravidez que mudou tanto as sensibilidades de Ágatha. Ela segue se apresentando com o Jardim Eléctrico, como Cigarra e também na Roda de Sample, em que diversos produtores processam e tocam samples e bases ao vivo.

 

NUVEN

Já destacamos o álbum de estreia de Gustavo Teixeira aka Nuven, produtor paulistano adotado pelo selo indie Balaclava Records, e que tem encarado boas gigs, como showcase no Primavera Sound e no terraço do Mirante 9 de Julho. Sua música eletrônica emotiva, reverberante e cheia de nuances de groove segue ecoando em nossos plays, então vale mais um destaque – agora para o EP de cinco faixas “Choice of a Friction”, disponível para audição na íntegra.

 

AYMORÉCO

Essa foi dica de Eric Duncan, DJ antenado que está passando boas temporadas e imersões musicais aqui no Brasil. O Aymoreco é uma dupla de “sexy music, com forte tendência à delícia”, composta pelo cantor e galã global Chay Suede, e o produtor e instrumentista Diogo Strausz. É música indie, praiana, cheia de referências da brasilidade e “guitarras cósmicas”, numa roupagem de produção caseira moderna.

Eles lançaram já faz alguns meses um EP homônimo, que dá mais pistas do que se trata a banda (Chay não aparece muito, talvez para o foco ser na música mais do que no seu rosto conhecido), que tem turnê prometida para o pr’ximo julho. Diogo Strausz já tocou com Alice Caimmy, outra jovem revelação do pop nacional.

 

GORILLA BRUTALITY

O bacana selo de música eletrônica independente Domina, do Rio de Janeiro, lançou um álbum da dupla também carioca Gorilla Brutality. Sem nome, o disco adereça a como “a Polícia pesquisa negócio sem significado reunindo ajuste misto em harmonia” e ao fato de que o “o objeto fora do lugar se conecta aos prédios abandonados (jogando placa na rua) para experimentar autênticas flutuações entre as quatro rainhas virtuais e o mecanismo de voo”, entre outras complexidades discursivas interpretadas em música de pista.

Alexandre Colchete e Eduardo Colombo estão à frente do projeto há anos, , mas esse é seu primeiro lançamento mais redondo, baseado em samples, sequenciadores, linhas de techno crescentes e progressivas, perfeitas para pistas escuras de clubes e das warehouses intensas que tem rolado em São Paulo. Há também as quebras experimentais, sempre calcadas na percussividade e no non-sense, que vem acompanhado dos discursos dos rapazes. Quem gosta do som do selo Border Community vai apreciar bastante o Gorilla Brutality.

 

AVA ROCHA

Filha do cineasta Glauber Rocha, Ava também é cineasta e vem se destacando como uma das vozes mais interessantes e bem arranjadas da música brasileira nos últimos anos. Os indies a têm recebido com prazer, e ela será uma das atrações do festival Popload desse ano, ao lado de Wilco.

Seu primeiro disco solo, Ava Patrya Yndia Yracema, tem um clipe para cada música, produzido por ela mesma. ““Eu sonhava que o público teria que escutar vendo. Aí desenvolvi um universo visual próprio para cada faixa que entremeava como um filme. Acabou que o disco saiu só musicalmente, mas postei todas as faixas no Youtube”, disse ela à TV Brasil.

Sua música é smooth, descontraída, bem a cara da MPB descolada que rádios e emissoras culturais abraçam sem pestanejar. Lembra de Maysa a Silvia Machete, e o adendo de ser filha de Glauber Rocha e produzir todos seus clipes só justifica o destaque que sua carreira vem tendo.

GEZENDER

Tiago Franco aka Gezender está cada vez mais presente nos line-ups do underground musical e gay de São Paulo, mesclando montação artística com questionamentos de sexualidade e boa música eletrônica, bem longe do pop padrão que é esperado no circuito gay.

Em entrevista à coluna Senóide, de Marco Andreol, ele explica sua persona: “Nem me vejo mais como alguém que se monta para uma performance – Percebo que venho me tornando cada vez mais meu alterego, que é uma forma de expressão da minha música expandida para o campo visual. Acho que o link do pop com a montação surge com esse novo boom das drags, mas o que faço não é drag, é mais uma extensão da música que produzo, que se relaciona à teoria queer, ao questionamento de gênero através da música”.

 

A sonoridade é ácida, electro, com niilismo techno e glamour electroclash. Ao vivo Gezender aplica todas essas nuances e vem assimilando a vivência na noite paulistana, após uma década em Florianópolis, para desenvolver o seu alter-ego artístico.

 

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