A cerimônia marcada para 25 de junho irá celebrar vida e obra de 10 das compositoras mais importantes da música estadunidense. Evento acontece pela fundação Women Songwriters Hall of Fame, que visa (re)ocupar os espaços historicamente negados às artistas.
Em 3 de março de 1973, usando um vestido rosa-choque de mangas compridas, Helen Reddy subiu no palco da 15ª edição do Grammy para receber a estatueta de Melhor Perfomance Vocal Pop Feminina, conquistada com a canção I Am Woman – que se tornou um hino da segunda onda do movimento feminista. Em seus dez segundos de discurso, Helen agradeceu à gravadora, ao produtor e a “Deus, pois ela faz tudo ser possível”. Um grande passo para a busca da equidade entre homens e mulheres artistas
Quarenta e oito anos depois, a cerimônia foi tida pela mídia como a mais representativa para as mulheres: Beyoncé se tornou a artista feminina mais premiada da história; Taylor Swift, a primeira a levar o Álbum do Ano três vezes. A noite também foi marcada por outras categorias premiadas, como a canção Stay High, de Brittany Howard, que conquistou a estatueta de Melhor Canção de Rock.
Este é um movimento que vem acontecendo globalmente há alguns anos – e com um atraso significativo. Seja por razões comerciais que cooptam pautas sociais ou por vontade genuína de combater o apagamento das mulheres ao longo da história da música, essas ações são de extrema importância. Antes, a pergunta era “onde estão as mulheres na música?”. Agora, é hora de nos perguntarmos por que essas mulheres foram apagadas da história.
Além da cerimônia do Grammy deste ano, uma outra iniciativa está buscando responder essa questão. O Songwriters Hall of Fame, criado em 1969, já homenageou 439 artistas. Desses, só 31 são mulheres. Agora, a organização finalmente está engatinhando para reparar esse desequilíbrio, fundando o Women Songwriters Hall of Fame. No dia 25 de junho, um evento da fundação irá, pela primeira vez, celebrar as artistas “cujo corpo de trabalho representa o melhor da herança e legado da música estadunidense moderna”. E o melhor: as 10 mulheres nomeadas estão vivíssimas. Janice McLean DeLoatch, produtora executiva e fundadora do Women Songwriters Hall of Fame, disse que a fundação “precisa entender que as mulheres foram deixadas de lado por muito tempo. É 2021!”
AS INDICADAS
Roberta Flack (1937) foi a primeira artista a levar a categoria Gravação do Ano por dois anos consecutivos. Não é pra menos; Roberta é a autora da canção The First Time Ever I Saw Your Face (que já foi gravada por artistas de diversos gêneros – de Johnny Cash a Celine Dion) e de Killing Me Softly with His Song, que explodiu na voz de Lauryn Hill.
Valeria Simpson (1946) é uma das compositoras mais frutíferas da Motown. Ao lado do marido, Nick Ashford, ela assina sucessos como Ain’t No Mountain High Enough e You’re All I Need to Get By. A dupla foi responsável por hits que levaram ao topo dos charts grupos como The Temptations, Marvelettes e Smokey Robinson & The Miracles.
Tawatha Agee (1954) é conhecida principalmente por seu trabalho com a banda de funk e soul da década de 80, Mtume. Mas ela também tem uma lista enorme de artistas com quem já colaborou como backing vocal, incluindo Aretha Franklin e David Bowie.
Deniece Williams (1950) é a dona de diversos hits de soul como It’s Gonna Take a Miracle e Let’s Hear It For the Boy (que fez parte da trilha sonora de Footloose). Sua canção Free é uma das mais sampleadas da história.
A compositora Bunny Hull (1951) tem um vasto currículo que inclui um Grammy, uma indicação ao Emmy e diversos Parents’ Choice Awards. Já trabalhou com artistas de vários gêneros como Michael Jackson, Billie Idol, Diana Ross e BB King, além de compor trilhas para filmes como Thelma & Louise (1991).
Mary Chapin Carpenter (1958) é a única artista a vencer a categoria Melhor Performance Feminina de Country do Grammy por 4 vezes consecutivas. Seu álbum State of the Heart, de 1989, alcançou a 28ª posição na Billboard.
Veryl Howard é uma das produtoras e empresárias mais conhecidas dentro do universo audiovisual do gospel. Faz casting para programas de TV e rádio nos EUA e tem um livro publicado.
Naomi Judd (1946) é uma cantora, compositora de música country e atriz. Ao lado da filha, Wynonna, fundou o duo The Judds que, entre os anos de 1984 e 1989, teve 14 singles do ocupando posições no topo da Billboard.
Dawnn Lewis (1961) é mais conhecida por seu trabalho como atriz na série A Different World, do final da década de 80, cujo tema de abertura ela compôs com Stu Gardner e Bill Cosby. Entre a segunda e a quinta temporada, a canção foi interpretada por Aretha Franklin.
Klymaxx é um grupo de soul e R&B composto exclusivamente por mulheres, com 7 álbuns de estúdio lançados. A balada I Miss You alcançou a 5ª posição do Hot 100 da Billboard em 1985.
A CERIMÔNIA
Para fazer jus à proposta da fundação, a cerimônia será realizada no Museu Nacional de Mulheres Artistas, em Washington. A ideia da fundação é expandir esse projeto e ajudar a fomentar outras iniciativas, como pesquisas e oficinas, que deem às mulheres o devido espaço e crédito que nos foi negado desde sempre. “Este é um convite para todos, até mesmo a indústria fonográfica, as editoras, as gravadoras”, declarou DeLoatch. Os ingressos para o evento podem ser adquiridos aqui. Que essa seja a primeira de inúmeras celebrações de vida e obra das mulheres daqui pra frente.